Uma pausa. Disto tudo, do trabalho, das rotinas, da correria. Das notícias. Do que arde e me deixa triste. Do que cresce e me fascina.
Apenas uma pausa.
Respirar. Em consciência, com esse propósito em mente, apenas por um momento.
Agradecer.
Em termos energéticos, já ouvi dizer que a oração e a gratidão são pares.
Elevam-nos de nós mesmos, e fazem-nos vibrar mais alto.
Hoje acordei com esta necessidade em mente, depois de, ontem à noite, alguém me ter enviado, em duas sentidas linhas, uma nota de gratidão.
Porque fiz bem o meu trabalho.
(Quem conhece o que faço sabe que me dedico a duas ou três áreas de interesse distintas. Veio de uma dessas.)
Vieram-me à mente (enquanto o corpo respirava e sentia e dava sentido) outras notas:
- aquele voto de boas festas, que agradeceu o renascer para a vida, de mais que uma forma;
- aquele convite para ir a um casamento, a deferência no trato e os recados cuidados por parte daquela pessoa que um dia se zangou tanto comigo;
- aqueles que expressam a sua tristeza quando compreendem que há lugares que já não habito, enquanto os exorto a confiar em quem lá chegou;
- aqueles que, de lugares simples e de clareza, me inspiram com a certeza de que a vida é pródiga e abundante, que do bem dos outros vive o nosso, que sabemos o que é melhor para nós, mesmo que o neguemos;
- aqueles que se preocupam, no sol e na sombra;
- aqueles que nem aparecem, mas estão sempre lá.
Às vezes, esqueço-me disto.
Às vezes é difícil respirar.
Às vezes não é fácil continuar.
Às vezes o medo manda.
Às vezes dói mesmo muito.
Às vezes está fumo, e arde, em nós como na rua.
Respirar e aceitar ajuda a continuar.
Agradecer ajuda a acreditar.
Agradeço hoje aos que alguma vez me agradeceram.
Por quê?
Porque é um dia tão bom como qualquer outro para parar e ser grata e o dizer.
Por Rosa Angélico